quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

DA FALTA DE TEMPO
Por Adriana Pinho Gomes
Eu preciso de tempo!!!!Tempo para mim, tempo para "vadiar", tempo para me dedicar ao ócio, e para a criação. Já disse isso Domenico de Masi no livro "Ócio criativo" ("ainda tenho que ter tempo para ler esse livro").É, o ritmo de vida imposto pela chamada sociedade "pós-moderna" tira do cidadão toda e qualquer chance de ele ser alguém além de mais um na multidão, nada mais que uma peça na engrenagem que serve aos interesses daqueles que detém o poder econômico. Isso é velho, é, e só tem se agravado ao longo do tempo.A gente precisa de tempo, eu disse tempo!!!!!A vida não é só trabalho, principalmente quando já se conquistou um mínimo de condições materiais para se viver com dignidade, o que aliás deveria ser natural e acessível a todo ser humano: ter uma vida digna com as mínimas condições para se viver saudavelmente. Mas o mundo está cheio de armadilhas, cheio de falsas promessas, cheio de vitrines de ilusões.Mas a minha questão hoje é o tempo.Eu preciso de tempo para ser eu mesma, para poder exercitar o que tem de mais genuíno em mim; tempo para ser amiga; para ser amante; para ser companheira; para criar; para cuidar de mim; dos que amo; para conversar e dar risadas sem preocupação alguma; para brincar; para meditar; ir ao salão; levar meu cachorro para passear; para conversar com minha mãe e pai, com a devida paciência que eles merecem, pois já são idosos; para cantar; para ler; para estudar (me atualizar em relação ao meu trabalho) e tantas outras coisas não menos importantes, mas que eu não citei aqui.
Enfim, quando eu penso nisso e vejo quanto coisa precisamos fazer, conquistar, manter, conservar, adquirir (diariamente) me vem inevitavelmente à cabeça a ideia de que algo está errado na forma como o ser humano vem estruturando seu modo de vida em sociedade, algo está muito fora do natural, vivemos em um ritmo absolutamente anti-natural. "Ah mas tudo é uma questão de adaptação". Será?
Qual o preço que pagamos por viver assim? Quais são os efeitos colaterais desse tipo de vida? doenças físicas (só tem aumentado os tipos de doenças), neuroses, violência, falta de amor, solidão, anonimato, indiferença, falta de afetividade, descaso, frieza.
Estamos todos submetidos em alguma medida a todas essas mazelas e será que tem que ser para sempre assim?
O que de bom nos traz esse ritmo alucinante além da sensação de impotência, aquela ansiedade terrível e uma constante tensão? nada.
O tempo todo é cobrado de nós algum tipo de desempenho, alguma providência, alguma performance, como profissionais, como amantes, como pais e mães, no seu prédio, pela sua faxineira, até seu cachorro te cobra carinho e atenção.
Que bom seria se pudéssemos nos dedicar apenas ao lado gostoso da vida, e como tem coisa boa na vida heim...
Nossa, por isso é que eu digo, nossa forma de viver está equivocada e desequilibrada.
Hoje eu quis apenas provocar esse questionamento, suscitar dúvidas com vistas a uma futura retomada de posição diante da vida, com a intenção de mudar os conceitos vigentes e até então estabelecidos.
Quem disse que tem que ser assim para sempre? Volto a perguntar. Alguma coisa tem que ser mudada nessa nossa vidinha mediocre, para qual fomos programados apenas para obter resultados e ainda opor cima de acordo com o que pré-definiram para nós. Vivemos computando resultados imediatos. Tem que fazer isso, tem que fazer aquilo, e mais aquilo e ai vai... a busca incessante de resultados práticos.
Mas para que a vida valha a pena, para que tenhamos um viver mais saudável, mas prazeroso e mais feliz temos que descobrir qual é o nosso verdadeiro roteiro de vida e não aquele que nos impuseram, aquele que nos é imposto pela "fala corrente". Para que a nossa história seja verdadeiramente nossa, não apenas mais uma "cópia", ou mais um "genérico" do padrão, temos que ir em busca do nosso ritmo, temos que cadenciar a nossa vida de acordo com o pulsar do nosso coração. Isso significa que temos que priorizar em nossa vida o que faz bem ao nosso coração, o que nos enche de entusiasmo e alegria. Nosso coração é nosso norte é ele que, literalmente, nos mantém vivos. Não é apenas um simbolismo, nem pieguice, é real. E muita coisa que faz o nosso coração bater de contentamento não é computado como resultado prático nesse mundo caótico.
Brincar com meu cachorro, pegar ele no colo, sentir seu pelinho macio e quentinho, ficar olhando para ele simplesmente fazendo suas brincadeiras me dá um prazer danado, mas não me traz resultado algum no mundo prático. Pelo contrário, fica parecendo que eu estou roubando meu tempo que eu estaria fazendo coisas mais "importantes". Mas a verdade é que não posso mesmo gastar muito tempo despreocupadamente com essas coisas, se não, não dá tempo de fazer outras coisas.
Queria escrever muito mais, mas não tenho tempo, não tenho tido tempo...
Por isso eu preciso mudar alguma coisa, ninguém consegue obter resultados diferentes fazendo as mesmas coisas, se posicionado da mesma forma, nada acontence de novo.
Quero terminar com duas frases que me fazem muito bem pensar sobre elas:
"Insanidade é querer obter outros resultados fazendo a mesma coisa" e "Só os peixes vivos conseguem nadar contra a maré, os mortos deixam-se levar por ela".

Nenhum comentário: