quarta-feira, 18 de abril de 2012



 

"O amor que eu quero"

Por Adriana Pinho Gomes

Eu quero alguém que me faça descobrir em mim o que eu ainda não sei; eu quero alguém que não se intimide, que queira descobrir os limites que dão o contorno de uma grande paixão, de um grande amor; eu quero alguém que me leve por um caminho sem fim, que não se importe tanto com as chegadas, mas que esteja sempre pronto para a viagem; eu quero alguém que saiba do vazio do desejo e da falta  do ser, da solidão do nascer e da inutilidade da procura incessante do ter; eu quero alguém que se aquiete com o pulsar de um coração tranquilo, que se enterneça com um olhar molhado, ora de alegria, ora de tristeza; eu quero alguém que reconheça a beleza da integridade do ser e que sinta o tremular das emoções contidas, mas que seja livre o bastante para libertá-las.
Eu quero alguém que sinta, sinta, sinta e que seja, ás vezes, incapaz de nomear o que sente e que me diga isso através de um beijo, de um abraço, de um toque ou de uma lágrima. Eu quero alguém que não tenha medo da profundidade da piscina, que saiba nadar, mergulhar e vir à tona. Eu quero alguém que anseie pelo o oásis no meio do deserto, mas que saiba que o único caminho pra chegar lá é atravessando a aridez das areias, e/ou , que saiba que o oásis só existe por causa do deserto. Eu quero alguém que pense sentindo e que sinta pensando. Loucura, ... não, eu quero alguém que traduza a integridade do humano no ser. Eu quero a revelação de um sentimento através de um olhar, eu quero sentir todas as nuances das emoções cálidas de um amor apaixonado, eu quero sentir a fragilidade de um suspiro libertado em um abraço ansioso de saudade. Eu quero alguém que saiba se deliciar com a grandeza da beleza das pequenas coisas. Que seja capaz de se deslumbrar com o um pôr do sol, uma lua cheia refletida no mar, um cheiro gostoso de terra molhada. Eu quero alguém que saiba que são os limites que dão dimensão à verdadeira liberdade. Eu quero alguém que me ensine a amar de verdade, que me ensine a verdadeira reciprocidade em uma relação, que me ensine a compartilhar verdadeiramente. Eu quero ser eu mesma (com o eterno sentimento de falta) e que tenha um fim essa minha angustiante e frustrante procura de ser alguém especial. Eu quero a  paz de espírito para aceitar em mim e no outro o lado sombrio da existência humana e poder o quanto mais iluminá-lo, até transfigurá-lo. Eu quero descobrir o equilíbrio entre a seriedade (para qual tudo faz sentido), e a frivolidade (para qual nada faz sentido), eu quero a eterna leveza dos bem humorados. Eu quero alguém que seja capaz de rir de si mesmo e brincar. Quero algúem  que não leve a vida tão a sério.

 

Como já disse o poeta: 

Amor não é se envolver com a pessoa perfeita,
aquela dos nossos sonhos.
Não existem príncipes nem princesas.
Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos.
O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser
. (
Mário Quintana)

segunda-feira, 16 de abril de 2012


Sobre a espiritualidade
Por Adriana Pinho Gomes 
Há algum tempo uma pessoa próxima  perguntou-me qual a minha compreensão sobre espiritualidade.

Para falar a verdade eu nem me lembro mais exatamente o que respondi.

Essa pergunta permaneceu em minha mente atiçando minha reflexão, e me ocorreram algumas indagações: será que em um mundo tão materialista e imediatista que valoriza resultados numéricos, concretos, práticos, palpáveis e lucrativos de alguma maneira,  um mundo em que a forma impera sobre o conteúdo, em que todo o enfoque da vida é tomado de fora para dentro, enfim... será que a espiritualidade tem lugar nesse ambiente? Considerando que o significado e conceito de espiritualidade se contrapõem a tudo isso?

Bem, vou procurar definir o que seja espiritualidade, conforme minha concepção.

Espírito por definição está em oposição à matéria, é incorpóreo, imaterial, místico, energia e sobrenatural, mas como?

Afinal somos dotados de um corpo físico, como esse espírito integraria esse corpo biológico? Compreendo que incorpora sim, por isso penso que a espiritualidade se caracteriza como outra dimensão do nosso ser. Mas que não está à parte do nosso corpo físico. É através do nosso corpo físico que desenvolvemos a nossa espiritualidade. Eu gosto de falar, inclusive, em senso de espiritualidade.

Este senso requer um movimento de interiorização em busca do autoconhecimento, que não é fácil.

Exige antes de tudo coragem, e muita disposição.

O processo de autoconhecimento não é tão simples como a princípio parece.

É tarefa árdua e exige um constante estado de atenção e observação interna. Mas o principal, que envolve tudo isso é que temos de ter humildade para fazer esse movimento, temos que nos observar com um olhar despretensioso, destituído de qualquer conceito pré-concebido.

Enfim, o autoconhecimento é primordial para desenvolvermos a espiritualidade.

Somos um fragmento de um todo, por isso temos que partir do autoconhecimento. Do micro para o macro.

Somos um micro universo submetido a  leis implacáveis que regem todos os processos da Criação.

Mas o que quero dizer é que o senso de espiritualidade nos estimula à busca dos valores eternos, das virtudes, do bem.

Aperfeiçoando-nos primeiro, estamos colaborando para a edificação de um mundo melhor, mais saudável. Portanto, a espiritualidade é essa busca, ela parte dessa investigação interna, desse aprimoramento do nosso ser.

E este auto-investimento nada tem de egoísta, pelo contrário, ele é necessário, exatamente porque somos todos um, somos parte de um todo. E é muita ingenuidade pensarmos que a miséria humana, não somente a miséria ligada à pobreza de recurso materiais, essa também, mas eu me refiro à miséria da ignorância, da bestialidade, da ausência de consciência a respeito das coisas e de si mesmo. Seria ingenuidade pensarmos que tudo isso não poderia influenciar nossa vida de alguma forma.

Em alguma instância isso vem ao nosso encontro, seja pela simples notícia ruim que temos de ver pela televisão ao marginal que invade nossa casa ou nos assalta na esquina ou, ainda, em um ataque de pânico ou uma crise de depressão (síndrome de pânico e depressão tão comuns hoje em dia).

Outro dia eu falava sobre a falta de tempo útil que temos para fazer coisas que nos dão simples prazer. Pois é, isso a meu ver faz parte da falta de consciência do ser humano a respeito de si mesmo, o que o leva a estruturar sua vida de forma antinatural, contra sua própria natureza.

O desenfreado desenvolvimento tecnológico veio totalmente desatrelado do auto desenvolvimento do ser humano como ser pensante e o desviou do caminho do auto conhecimento.

Ficamos seduzidos como crianças ingênuas, perdidas em um parque de diversões.

Não desenvolvemos nem 10%  do nosso potencial como seres pensantes e inteligentes para os propósitos de real significância em nossas vidas.

Imiscuímos-nos em detalhes superficiais que não nos leva a nada. Criamos celular que tira foto (já existem câmeras fotográficas), carro com televisão, com computador de bordo e tantas outras invenções tecnológicas "top de linha" que eu nem poderia numerar e, no entanto, sequer dispomos de segurança para curar uma simples gripe na atualidade? Porque ainda se fabrica cigarros se é tão maléfico? Muito menos  sabemos como funciona nosso psiquismo, nossa mente.

Ainda por cima temos criado artefatos que estão sendo usados contra nós mesmos, que colaboram com a destruição do planeta.

Enfim, é evidente que há um desequilíbrio nessa busca insana somente por aquilo que se encontra fora do ser humano, busca pelo material, pelo palpável, pelo corpóreo, enfim de tudo aquilo que não é espírito, espiritual. Pensou-se que a "modernidade", com toda sua "ciência" e "técnica",   solucionaria todos os problemas da humanidade. Mas é preciso mais.

Sem a preocupação da ordem do espiritual ficamos coxos, aleijados como serem humanos, porque desconsideramos esta nossa dimensão, que na verdade é tudo, é a síntese é a essência, a centelha divina que integra cada indivíduo.

O desenvolvimento da nossa espiritualidade nos proporciona, inclusive, uma maior consciência corporal, na medida em que ele pressupõe o auto conhecimento o que inclui obviamente a consciência a respeito do nosso corpo. Saber ouvir o corpo, o que ele pede os sinais que ele dá. A doença é na verdade uma linguagem corporal, ela quer dizer alguma coisa. Não basta simplesmente dar um remédio para camuflar o sintoma. A doença quer dizer a respeito de nós, da nossa humanidade, dos efeitos do nosso estilo de vida sobre nosso corpo, sobre nosso psiquismo. Revela essa incompatibilidade do físico com o espiritual.

O desenvolvimento da nossa espiritualidade seria profícua até mesmo para a ciência.

Portanto, se hoje eu fosse responder sobre o que eu entendo ser a espiritualidade, eu diria que espiritualidade é a busca de si mesmo é a busca do elo perdido consigo mesmo, seria a identificação com aquela centelha divida que identifica e habita cada um. E nesse diapasão, é também a ânsia pela auto superação, pelo auto aprimoramento e pela descoberta do que pouco sabemos a respeito da nossa essência. É a ânsia do saber. É um certo desconfiar do que nos é dito, do que parece ser, é um certo fascínio pelo oculto. E nesse sentido me parece muito adequado e expressivo dizer que a espiritualidade é mística. Ela vai de encontro a tudo o que é valorizado na nossa sociedade, no chamado mundo "moderno".

Assim, a espiritualidade aproxima-se do "sobrenatural" mas em realidade é exatamente o contrário. O desenvolvimento da espiritualidade proporciona a identificação consigo mesmo, de onde surge o conhecimento do que é realmente importante para cada um, a partir da própria subjetividade. Ela é a própria essência do ser em seu estado natural. Mas em um mundo alienado e preocupado com questões falsas e criam interesses equivocados na humanidade, ela não tem mesmo espaço adequado.

Por isso as pessoas tidas como espiritualizadas são vistas como excêntricas ou desequilibradas.

Pessoas realmente felizes, sorridentes,  amigas, que manifestam a bondade e que estão em contacto consigo mesmas são vistas como estranhas, tolas e esquisitas. Pessoas que não entram muito no "esquema comum" são sempre mal vistas pela maioria. Penso que no mundo de hoje tem uma neura pela falsa alegria,  e uma busca insana pelo prazer imediato,  não se pode chorar, não se pode ter emoções, é careta declarar a dor sentida (sentir dor é inevitável, seja moral/psiquíca ou física) é careta sentir e manifestar sentimentos, enfim, as pessoas têm de estar sempre animadas e prontas para uma balada, para malhar, para fazer muito sexo, beber, trabalhar "muuuuuuito" para poder comprar "muuuuuuuito", consumir, enfim tudo é usado como uma droga entorpecente para não nos deixar entrar em contato com nossa realidade interna (com nossa espiritualidade). E isso é considerado normal pela nossa cultura.

Mas o que é normal?

Normal é aquilo que está dentro da norma corrente e do senso comum, mas será que é natural, que é saudável?

Enfim, a espiritualidade não tem lugar no mundo de hoje.

Este tema comporta infinitas colocações e considerações, devo dizer que a segunda metade da vida da gente deveria ser reservada apenas para o nosso aprimoramento como seres humanos. Já gastamos toda nossa juventude colaborando com o esquema vigente. A nossa segunda parte da vida (a partir dos 40 ou 50 anos) deveria ser apenas para nossa prática evolucionista. Cada um de nos deveria poder dedicar tempo e energia nessa empreitada rumo à espiritualidade.

Sei que falando assim, parece estranho mas é porque ainda trata-se de algo muito distante da nossa realidade, é utópico eu sei mas ainda chegaremos lá, é questão de tempo.

A tomada de consciência é mesmo lenta e gradual, parte de cada indivíduo e vai aos poucos ganhando relevância no todo. Os efeitos custam a aparecer.

Enquanto não nos curvarmos diante do grande mistério que envolve a existência humana e aceitar que esta vida aqui está ligada a algo para muito além da dimensão física não evoluiremos, e pior, viveremos em eternos ciclos de destruição do que há de humano em  cada um de nós e também  das civilizações duramente construídas ao longo de milênios.  

Mas enfim, a Lei de Evolução é imperativa não tem como fugir dela. (APG)

E como já disse o poeta:

“O sol há de brilhar mais uma vez

A luz há de chegar aos corações

Do mal será queimada a semente

O amor será eterno novamente

É o juízo final

A história do bem e do mal

Quero ter olhos para ver

A maldade desaparecer" (Nelson Cavaquinho - Élcio Soares)




terça-feira, 10 de abril de 2012

Tarde em Itamarandiba



 
Aquele sol de meio de tarde invandindo a cozinha me trouxe uma sensação de eternidade que há muito tempo eu não sentia.
Os momentos felizes sempre  provocam em mim uma sensação de eternidade,  eternamente lembrada ...
Era de novo a paz em meu corpo.
Sentimento íntegro de estar em harmonia consigo mesmo como parte do todo.
(Por Adriana Pinho Gomes - Itamarandiba em 04.04.2012)

segunda-feira, 9 de abril de 2012


Filme “O preço da traição”
(Adriana Pinho Gomes)

Achei que a temática do filme foi apresentada de uma forma muito realista. O núcleo da trama é a crise de meia idade de uma mulher bem casada, com uma vida conjugal estável e bem estruturada. Ela médica e ele professor que lida diariamente com belas jovens. Incomodada com a forma do marido reagir às presenças femininas, sempre flertando e demonstrando fascínio pela beleza das mulheres que conhece, a esposa  resolve colocar à prova a fidelidade de seu marido. Contrata uma jovem prostituta muito bonita para tentar seduzi-lo.

O que mais me chamou a atenção foi o diálogo que o marido tem com a mulher quando ela confessa a ele o drama que estava vivendo de se sentir insegura por não ser mais jovem e bonita. Diz que se sentia invisível, já não sabia mais quem era.

Na opinião dela (esposa) o marido, pelo contrário, ficava  cada vez mais atraente e sedutor, e seu charme parecia só aumentar na direta proporção do avanço de sua idade cronológica.

Ela expõe com clareza a sua dor, por sinal muito boa a cena do diálogo dos dois. Ele então confessa que sempre admirou com fascínio a beleza feminina, usando a expressão “sou apaixonado pela beleza das mulheres”. Mas afirma que nunca tinha dormido com outra mulher, apenas “flertava”. Diz que teve muitas tentações mas que resistiu a todas. A esposa então grita “mas você teve vontade, desejo”, ele retruca: “sou humano, e voce nunca teve?” ela diz que nunca teve vontade de ficar com outro homem que senão ele. Este confronto é cruel, pois expõe a solidão que aquela mulher sentia diante daquele homem, o qual  amava.

Ele, por sua vez, se sentia incompreendido.

Este é um exemplo de solidão a dois, causado pelo distanciamento entre os amantes, que vai acontecendo aos poucos, ao longo dos anos de convivência.
 Por Adriana Pinho Gomes

Desejo de poder

Por Adriana Pinho Gomes

As mulheres, de um modo geral, têm uma tendência de sempre privilegiar o bem estar do outro, seja marido, filhos, pai, mãe, patrão, etc, esquecendo-se de si mesmas. A capacidade de adaptação da mulher é admirável. Mas em certos casos pode se tornar maléfica, como por exemplo quando convivem com alguém violento. Muitas vezes, dedicamos 100% de nossas vidas em prol de outra pessoa achando que estamos fazendo o bem ajudando um outro ser humano e não percebemos que essa ajuda, pode ser sim, nada mais, do que uma fuga em exercer responsabilidade sobre nossas próprias vidas. É mais fácil cuidar e ajudar o outro do que nos ajudar. Entenda que a ajuda, a qual me refiro, não é uma ajuda saudável de troca, é ajuda dedicada, doentia, mórbida, castradora onde, um ajuda e o outro suga. É muito comum ver mulheres se desdobrarem insanamente para atender maridos (que se comportam como bebês dependentes), filhos adultos, patrões (que se comportam como carrascos) e familiares (aqueles conhecidos chantagistas emocionais), na esperança de se obter algum reconhecimento (doce ilusão...). Penso que o que leva a esse comportamento é o desejo de poder. Esse desejo nasce do medo da solidão, do medo de não ser aceita. O que arregimenta o desejo de poder é sempre o medo, obviamente, inconsciente. Em relacionamentos simbióticos de co-depedencia em que se estabelece a dinâmica do dominador/dominado ou vítima/salvador, uma das pessoas envolvidas de uma forma “torta” e desvirtuada, sempre se sente “poderosa”.  (APG)